As pessoas chegam ao ponto de assistir pela televisão a apreensão de várias toneladas de drogas apreendidas pela polícia ou a morte de uma criança ou adolescente vitimas dessas drogas e não se comovem mais, tamanha a banalização que o crime tomou no nosso país.
Os apresentadores de tantas matérias criminais acontecidas, quase não comentam mais, para não serem repetitivos. São pais que não choram mais, enterram seus filhos, viram as costas e vão embora. Tem acontecido uma rápida transformação nos sentimentos das pessoas contemporâneas, sob o acicate da intensidade e da celeridade dos acontecimentos criminais.
Outrora viúvas andavam de preto por pelo menos um mês. Nas missas de sétimo dia, todos iam de negro. Não só a vida era mais sacralizada — também a morte tinha um peso formidável. E um silêncio pesaroso se adensava nas cerimônias. “morreu gente”. E isso doía na família dos nossos amigos, ou em nossa própria família, e em toda a comunidade. Por um tempo, a viúva, o viúvo, os pais que perderam um filho ou os órfãos se convertiam em seres especiais, como se tivessem capacidade de nos perdoar também, já que não podíamos alcançar a extensão daquela dor.
Isso acabou. As dores individuais não têm mais lugar e se convertem em causas. Até o sofrimento mais insuportável, a perda de um filho, transforma-se numa demanda pública. A vida nunca valeu tão pouco porque, de fato, a morte se banalizou. Não é mais preciso sofrer. O sofrimento é inútil. Necessário é oferecer respostas coletivas e ser agente de uma proposta, de uma ideia, de uma tese.
O mal, banalizado na imprensa, torna-se um símbolo noticioso. Não aprovo reportagens que deem ênfase a exposições de crimes ou acidentes automobilísticos que constranjam as vítimas, ficando estas expostas. Em outros casos, é válido escrachar o autor para que a sociedade tome conhecimento.
As leis ao tratar marmanjos assassinos de 17 anos como seres inimputáveis ou vítimas da sociedade acabam estimulando a criminalidade. O Brasil está banalizando o crime. Isso dá à bandidagem uma impressão de guerra sem combatentes. Não ficamos mais perplexo com os crimes que estão em franca ascensão. A anarquia se instituiu e o modelo de combatê-los ficando ultrapassado. Estamos nos dizimando, matando-nos uns aos outros. O estado está preste a ser assassinado.
Um dado negativo do estado do Rio de Janeiro ao final dos anos 1980, hoje é um quadro que se verifica em todo o brasil. Os dados de criminalidade em cidades como recife, vitória e Maceió são tão ruins quanto São Paulo e Rio desde os anos 1990. Entre os estados, em 2010 Alagoas estava em primeiro lugar, com uma taxa de 66,8 homicídios para cada 100 mil habitantes; Espírito Santo (50,1), em segundo; Pará (45,9) em terceiro; em seguida vinham Pernambuco (38,8), Amapá (38,7), Paraíba (38,6), Bahia (37,7), Rondônia e Paraná (34,4), e Distrito Federal (34,2). Rio de janeiro e São Paulo têm hoje índices melhores (26,2 e 13,9).
A desigualdade social e a pobreza são os culpados de sempre. Também são o uso de drogas e até o sucesso parcial no combate ao crime organizado, uma vez que estes fatos fazem com que aumentem o número de crimes menores para conseguir dinheiro rápido. Até o crescimento econômico recente do país aparece como vilão. Para melhorar a segurança pública, os governos estaduais aumentaram o número de viaturas e de policiais nas ruas. Usaram abordagens vindas do exterior, como a polícia pacificadora de Bogotá usada no Rio e Unidade Pacificadora no Paraná. O governo federal lançou a campanha “conte até 10”, com o objetivo de evitar os homicídios cometidos por impulso, que ocorrem em situações como brigas. A banalização da violência é patente, e requer uma solução urgente, quiçá consigamos reverter esse quadro.
Israel de Souza Brito, Investigador de Polícia, Graduado em Geografia e Especialista em Gestão Ambiental
www.jtribunapopular.com.br