Existem inúmeras razões que podem motivar uma pessoa a querer se tornar um policial civil: primeiro, por desejar exercer uma profissão que é ao mesmo tempo nobre e importante, segundo, um trabalho que proporcione ação, que não seja rotineiro, sem medos de correr riscos. Quando aprovado no concurso acha que está entrando para uma profissão assim, crê que será um investigador.
Pode-se dizer, pelo menos sob vários pontos de vista, que a Polícia Civil já não é mais um órgão policial de verdade. Você vai numa delegacia e o que menos vai encontrar são policiais correndo atrás de criminosos.
Os poucos policiais civis ocupam a maior parte do tempo atendendo ao público para registrar suas ocorrências, na grande maioria das vezes tratando-se de simples perda de documentos ou de objetos que não é motivo para gerar uma investigação, redigindo e protocolando documentos e deslocando-se para realizar intimações ou encaminhar inquéritos e outros expedientes à outras unidades.
Os trabalhos ficam por conta dos escrivães ou estagiários que irão apenas ouvir os relatos e depoimentos, reunir as informações e encaminhar ao poder judiciário. Pois é, estão acabando as cadeias nas delegacias e os policiais civis deixaram de tomar conta de presos para tornarem-se "Office boys" da justiça. Não há investigação. Investigação mesmo, havendo levantamento, coleta de evidências, campanas nos locais de ocorrências de crime, cruzamento de informações, filmagem ou fotografia, escuta, etc.: nada.
Atualmente, quase que a totalidade das prisões realizadas, principalmente durante os plantões, é feita pela Polícia Militar ou a Guarda Municipal através de ocorrências ou até mesmo por meio de investigações realizadas pela inteligência destas "P2 ou G2" (Corregedorias).
Difícil ver uma prisão feita por uma investigação iniciada e concluída pela própria Polícia Civil. Algumas vezes há sim certa investigação que gera uma operação policial e que acaba resultando na prisão de criminosos. Mas pode apostar que houve um interesse particular ou pressão política ou social para isso.
Outras vezes há uma pequena operação, (desfilar com viaturas pela cidade á noite com giroflex ligado) para fazer propaganda, mostrar a comunidade que a polícia "está trabalhando" e que geralmente não resulta em prisão nenhuma, afinal não houve levantamento, não houve investigação. Foi só pra inglês ver. Acabou aquele tira bom de serviço que só vivia nas ruas ou dentro da viatura. Que estava atento a tudo que ocorresse nas ruas. Que tendo vários informantes, sabia quase tudo. Aquele que virava as noites e ficava altas horas da madrugada de campana para saber o que um suspeito estava aprontando ou iria aprontar. Que estava pronto a qualquer hora do dia ou da noite pro que der e vier, para uma operação ou para fazer uma prisão. Aquele policial 24 horas que não tinha medo de "bronca", que não tinha medo de nada. Que, orgulhava do distintivo.
Hoje o tira bom é aquele servidor, preferencialmente submisso, que entende de informática ou o policial de escritório, nos moldes do funcionário público: cumpridor de horário, que chega à repartição exatamente às 09:00h senta-se em frente à mesa ou ao computador; permanece ali o dia inteiro, pausando de vez em quando para tomar um café ou bater um papo; ao meio-dia em ponto sai para o almoço; retorna pontualmente as 14h; senta-se de novo a mesa ou ao computador, pausando novamente para os coffee breaks; até dar 18h para ir embora o mais rápido possível do entedioso trabalho.
Trabalho fora do expediente, nem pensar, a não ser visando alguma recompensa! Este passou a ser o servidor ideal para a polícia. E se um destes sabe lá, que possui um espírito policial, se deparar com uma situação e resolver fazer uma prisão. Ao levar o suspeito para a delegacia, mesmo não tendo agido com abuso algum, mesmo tendo executado o procedimento de forma legal, ainda pode não contar com apoio e ouvir um monte de broncas de seu chefe por "estar dando trabalho".
Não se postula aqui o retorno daquela polícia antiga e obsoleta que só apurava Tudo através da tortura, no pau de arara. Isso não é investigação. Alguns ainda dizem que assim se apurava muitos crimes e que só desse jeito é possível apurá-los. É verdade, que em certas situações extremas, repito extremas, a lei é incompetente e ineficaz. E para solucionar isso é necessário atuar fora da lei. E mesmo assim, aquele que o fizer estará correndo o risco de ser responsabilizado por seus atos. Agora a prática cotidiana de tortura ou da arbitrariedade policial é sim totalmente condenável.
Sonhava que a Polícia Civil poderia ter tanta moral quanto a Polícia Federal. Mas para que isso ocorresse era necessário que a Polícia Civil abandonasse tudo que a ela não dizia respeito para então somente fazer aquilo que era de sua competência: investigação. Sendo assim, devia parar de ficar, correndo atrás de bandidos e traficantes "pés de chinelo" ou de ficar perseguindo os pobres na favela. Mas infelizmente é um sonho perdido. Por isso, hoje estão todos se aposentando e todo mundo que passa no concurso e entra pra Polícia Civil, se decepciona, permanece pouco tempo e sai pra qualquer outra coisa melhor. Não é mais uma profissão, é apenas um bico, aos espertos investigadores só resta estudar e cair fora o mais rápido possível.
Esta é uma visão política de como hoje funciona a Polícia Civil do Estado do Paraná, segundo estatísticas apuradas pelo Tribuna Popular, quase 95% dos investigadores fazem o simples papel administrativo, pois o GDE (Grupo de Diligências Especiais) da Polícia Civil de Foz do Iguaçu possui duas ou três viaturas, para atenderem uma das cidades brasileiras que hoje é considerada a porta de entrada dos narcotraficantes.
Em anos trabalhando com repórter policial fotográfico, e hoje como editor chefe do mais acessado portal de noticias criminais da região, conheci verdadeiros policiais civis, que foram encurralados pelas novas políticas da Polícia Civil, e hoje os verdadeiros policiais estão sendo deixados de lado pelo fato de não se intimidarem.
Tanto é verdade tudo que escrevi, que hoje a Delegacia da Polícia Civil não possui uma central de rádio, pois para a polícia judiciária, o crime somente ocorre quando é feito uma queixa, e os verdadeiros policiais que gostam de investigar quando o fato esta ocorrendo, ou logo após o ocorrido, trabalham com rádios próprios, que captam frequência da policia ostensiva e saem às ruas para elucidar crimes sem o devido apoio.
Por Enrique Alliana - Editor Chefe do Tribuna Popular
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